Hoje foi um dia que, incrívelmente, saiu como planejado. Foi até satisfatório. Mas, ainda pouco, acabei lembrando de uma ocasião inesquecível, onde nada ocorreu como o combinado. Havia um ensaio de teatro marcado na faculdade. Ao chegar ao local, encontrei o portão fechado. Era feriado do magistério e nos esquecemos desse detalhe. Em seguida chegou minha diretora e amiga. Ela não pensou duas vezes e entrou em contato com quem conseguiu, pelo celular, informando que nosso encontro seria num bar próximo. Um pseudo pé sujo (acho que o ideal não é pseudo, e sim quase, mas é difícil definir) que era frequentado por malucos de ocasião, e também nossa segunda casa. Para os incomunicáveis, ela pôs (esse acento caiu, ou não ?) um bilhete, em folha de caderno, dependurado na grade do campus. O céu, que já estava coberto de nuvens pesadas, de tom cinza esverdeado (a cor deve ser culpa da poluição) resolveu desabar sobre nossas cabeças, em pingos grossos e frios. Em raios e trovões.
Já no bar, aos poucos, foram chegando os integrantes da trupe. Todos enxarcados pela chuva que apanharam pelo caminho. E assim, garrafas de cerveja foram abertas por garçons, ou os próprios donos do boteco, que conhecíamos pelo nome. A chuva, cada vez mais forte, foi alagando a região vizinha. Causou uma interrupção no fornecimento de eletricidade, obrigando que velas fossem providenciadas para as mesas. E nós ali, animados, conversando assuntos relacionados a peça ou não. Não nos abalamos nem quando a água cobriu o chão do bar, em alguns poucos centímetros de profundidade, nos obrigando a apoiar os pés nos ferrinhos que ficam na parte de baixo das cadeiras metal, para não molhar nossos sapatos. Mais garrafas foram abertas. A animação seguia o mesmo ritmo dos copos que se enchiam e esvaziavam. Não havia som pela falta de energia. Então, cantamos. Estávamos bêbados e cantávamos. Pessoas saíam de outros bares, bares que não foram atingidos pela enchente, e íam para o nosso. E se espremiam entre mesas iluminadas com velas. Desviavam de funcionários que tentavam retirar com rodos, o excesso de água que ainda cobria chão. Iam para lá e pediam repertório. Não que fossêmos estrelas da música ou coisa parecida. Eu mesmo, desafino absurdamente. Iam porque era o mais animado. Lá havia clima de festa. E era…